POSTAGENS

terça-feira, 21 de maio de 2013

HOMENS DE RUA

Os pés calejados se atolam na eira! As mãos estão  imundas, ásperas e cheias de calos! Decorando os corpos amontoam-se trapos, papelões e jornais! Sobre os lombos cansados carregam peças de abrigo, encardidas ou feitas de farinhas de saco! Não se vê bocas saudáveis, nem dentes fortes, nem barbas aparadas e nem barrigas sadias! A desnutrição é clara, induvidosa e absurda! Sobrevivem de lixos, dependem de estatais, moram em viadutos e fazem mendicâncias!  Percebe-se nos bolsos alguns míseros reais, equivalentes a quase um mês de salário! Grande quantia se fará necessária para saciar seus descendentes! No almoço sempre falta feijão, arroz e pão! Às sobras são poucas, e a barriga reivindica melhor nutrição! O sal de seus corpos é nojento, seus cheiros são insuportáveis, seus hálitos tem fedor de estrume, suas petições são incomodativas, pouco lisonjeiras e ensebadíssimas! Dormem feito porcos por debaixo de pontes, se fazendo de casas! Perambulam sem destino certo, guiados por seus ébrios amargurados e pela cachaça maldita! A sociedade exigem-nos respeito, quando os condenam, os desaprovam ou os amaldiçoam, desfavorecendo-os e os mandando para o espaço! Suas imundícies incomodam o povo, afetam as crianças, dão náuseas às moças, repugnam os rapazes e aborrecem os idosos!  As ruas estão cheias deles, homens de rua, insensatos sem pátria, sofrendo tribulação, perseguição e angústia! Quem se importará com suas tristes vidas, a não ser os recicláveis, os latões e os lixões? A vida é dura, duríssima, e a batalha é imensa, imensíssima! O preço pago é a sujeição, ingratidão, repulsa e miséria! O quanto sofrem! O quanto estão perdidos! O quanto precisam de ajuda! São criaturas como nós, que não apresentam grandes diferenças! Do pó eles também foram criados, e assim, como qualquer outro, não levarão nada desse mundo! O calor do dia lhes sobem as ventas, edificando a cintura e as veias de seus pescoços! A noite então logo cresce, trazendo seu zumbado friento e tenebroso! Dai eles dormem àquele seu sono costumeiro e misterioso, enquanto aspiram as paredes lambuzadas de mofo, de fezes e de urina!!
                                                                                        Gláucia Cardoso    
                    
                                                                                                                                                                                                                       

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