POSTAGENS

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

MEUS AMIGOS SIMPLESMENTE DESAPARECERAM....

Estou rendendo-me ao cansaço, a fraqueza física e ao descontrole íntimo, muito próximo de por fim nas minhas buscas! Na verdade, cheguei a atravessar rios, rodear florestas, escalar montanhas, indo além que terra e mar, e nada! Meus amigos simplesmente desapareceram! Estou ao ponto de vomitar e perder a cabeça!
Vivo diariamente calculando o lugar donde errei, determinando pontos, associando colchetes e abrindo parênteses! Mas, infelizmente, não consigo encontrar respostas concretas e nem entender o motivo certo de terem-me abandonado! Talvez não sintam qualquer remorso, ou mesmo, não tenha sido eu uma melhor companhia!
Nossa! Ainda lembro-me de quando éramos crianças! As lembranças vagueiam em minha consciência voadora, desnorteando-me incessantemente! As verdades que digo e os sentimentos que sinto, não me deixarão passar por mentiroso! Afinal de contas, partilhávamos de coisas tão íntimas, tão intensas e tão profundas! Era tudo tão mágico, excitante, comovente e tentador, ao qual nunca me esquecerei disso!
Por que isso agora? Por que me deixaram tão só, amargurado e preso num marasmo? Tenho muito que falar, muito que perguntar e muito que aprender! Novidades não faltam para contar, criticar ou favorecer, sabendo que as fofocas não param, simplesmente voam!
Donde se meterem esses bandeirantes? Onde, como, ou a quem recorrer?
Éramos tão felizes, tão presos um ao outro, tão companheiros, tão dependentes e cheios de vida! Não consigo imaginar o motivo desses deslizes, quando me abandonaram e separaram de mim!
Sempre os tratei amigavelmente, sem arrogância, sem ironia, sem hipocrisia ou comparações! Nenhum momento deixei de ampará-los, de ouvi-los, de agradecê-los e de amá-los! Não fui negligente, nem egoísta, nem praguejador e muito menos farsista!
Hoje me entrego ao caos dos meus anseios, inspirado pela agonia, esperança, vergonha e dor! Estou sendo guiado pelo cansaço, pelo vazio e por insistentes procuras! Valerá a pena insistir?
Vivo de suspeitas, de expectativas, de suposições e desconfianças, imaginando coisas, criando histórias, roendo livros e valendo-me de buscas eletrônicas! Até onde vai parar essa “levanta a caça”? A tecnologia está ai me proporcionando caminhos para maiores investigações e pesquisas! Mas, infelizmente, parecem que esses meus amigos realmente sumiram do mapa!
Os computadores até que podem me prover de benefícios, trazendo-me seus armazenamentos de dados; mas, porém, não conseguem materializar meus amigos para mim! Isso não existe! Além de que, eles são feitos de carne e osso, e não constituídos por mecanismos, fios, latas, sensores ou pedras, apesar de senti-los como os tais.
Andando pelas ruas vejo seus rostos estampados nos outros: um de cor de jambo chamou-me atenção; outro, de trigueira e púrpura atentou-me à observação! Também não esquecerei os brancos cor de neve, os de claras de ovos e os rostinhos em lua cheia!
Tudo me lembra vocês, bando de amigos ingratos e mal agradecidos!
Oh inseparáveis companheiros! Para onde foram e para onde desapareceram?  Por que me desamarraram e deixaram-me assim tão só, tão carente e sem força?
Não consigo conter as lembranças! Elas me machucam, me isolam e esmagam meus neurônios! É terrível! Por mais que penso, não quero ficar reproduzindo aquilo que fazíamos no passado! Isso me agonia, me entristece e me apavora!
Éramos peraltas sim, e intensamente bagunceiros! Lembram-se de nossas conversas tolas às cercas do pasto e do galinheiro? E quanto às campainhas acústicas, quando acionadas em rebelião? Guardo nas lembranças as nossas roupas tão justas e encardidas, que as chamávamos de bate enxugas quando postas, somente aos sábados, sobre os varais!
Lembro-me que falávamos de coisas tolas, tão loucas, tão indecentes, tão maliciosas, tão malucas e tão nojentas, não é verdade? Eram tantas bobagens, tantas azarações, tantos deslizes, tantas malícias e tantas propagações!
Talvez não possam ler esses meus sinceros e suplicáveis discursos! Talvez nem se lembrem do que havíamos feito e vivido no passado! Ou mesmo, nem possam sentir as mesmas compulsões e expectativas ao qual venho sentindo durante muito tempo! Quem sabe, nem se lembram mais de mim!
Eu era aquele jovem palhaço, um atleta desajeitado, um portador de miopia e admirador de lentes! Gostava de tocar piano, cuja flauta ignorava! Amava andar a cavalo, cujo pai me ensinava!
Hoje, posso afirmar que sou um jovem adulto esperançoso, que cresce, mas não amadurece; que aumenta, mas que continua diminuindo! Devidas saudades que não passam, anseio em vê-los urgentemente, recordando do tempo em que éramos apenas quatro ou cinco!
Assim crescemos juntos, naquela rua desengonçada e ladeada por cercas e muros! Não era favela, mas também, não podíamos considerar nossas casas como palácios! O importante fora que nos conhecemos ali, naquele lugar simplório e sem muitas luxúrias, ao qual passamos nossos melhores momentos e nossas melhores aventuras!
 Ali traçamos caminhos e idealizamos grandes planos, não é verdade? Estávamos aliados numa só corrente, lembram-se disso? Corrente essa de curto alcance, encontrada largada para o lado e reduzida aos farrapos e aos milésimos pedaços! Sim, pedaços de associamentos, de cumplicidades, de lealdades e de amizades!
Tenho que me acostumar com isso, com a individualidade, comodidade e implicações do dia a dia! Coisas essas que levamos nós, grandes amigos, a entrarmos em choque nesse mundo externo de cão! Um mundo individualista, sem paz, sem ordem, sem padrões, sem brilhos e sem amizades!
Preciso urgentemente desprezar essa ânsia no peito e concluir logo as minhas anotações e buscas! Estou cansado demais para ficar correndo atrás do vento, atrás de quem não me quer mais como amigo íntimo!
Tenho que conformar que meus amigos simplesmente desapareceram! Acho que não voltarão mais e nem se lembrarão desse velho sonhador, pobre e rejeitado; sendo inútil reconstituir os cacos de quem não me corresponde mais nenhum agrado!



                                                         Gláucia Cardoso

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