Lembro-me de
quando ainda criança, nas primícias dos meus quatorze anos, nessa fase em que
roubamos esforços e sentimentos adolescentes, que descobri meu primeiro amor!
Éramos tão jovens ainda, e já, na primeira ocasião, nos apaixonamos
perdidamente!
Era uma sensação
gostosa, completa e irradiante, concernente aos assomos da puberdade e
desenvolvimento de corpo! Tudo era mágico, tempos de regozijos, de primaveras e
de muitas loucuras! Nossas diferenças eram conciliadas, cativantes e
compartilhadas! Éramos o que éramos, irresponsáveis, loucos e atrevidíssimos!
Naquela época, eu
saia dos quinze para os dezesseis! Quanto a ele, sinceramente não me recordo
direito, mas, posso arriscar que entrava para a casa dos dezoito ou pouco mais
que isso! Não me lembro muito bem!
Nesse tempo, nossas
atitudes eram saudáveis e espontâneas, enquanto nossas palavras nos favoreciam
um vocabulário sem muita letra ou cultura, coligado a um alfabeto meio tosco e
estranho! Só pensávamos em áreas verdes, em cinemas, em parques, em shows e em
paqueras, e não em dicionários, bibliotecas, livros, valsas ou coisas
antiquadas!
Apoiávamos
àqueles sem disciplina alguma e os de nossa mesma jovialidade robótica! Naquela
época, os jovens eram mais que irresponsáveis e mais que imaturos, mas, porém,
pouco atrevidos! Pelo menos, respeitávamos nossos pais, nossos instrutores e
nossos amigos!
Naquela fase, aprendemos
a amar e sermos amados, a respeitar e sermos respeitados, e a beijar e sermos
retribuídos! Fora tudo tão intenso e tão apaixonante que achávamos que tudo
aquilo nunca se acabaria! Não existia ocasiões danadas, épocas ruins, tempos
difíceis ou circunstâncias perigosas, só poesias, versos e prosas!
Éramos tão
crianças, tão cheios de vida, isentos de qualquer responsabilidade, maturidade
ou aborrecimentos! Não éramos obrigados a responder por nossas ações, por que
tínhamos os mais velhos zelando por nós; e nem cometíamos atos indesejados com
os outros, saindo revelando coisas nos confiadas ocultamente!
Todavia,
sabíamos que um dia iriamos crescer, florescer e nos distanciar um do outro!
Assim aconteceu, num determinado tempo em que não estávamos esperando! Nossa
jovialidade então se esvaiu, dando lugar à ordem, a normas e a disciplinas de
adultos!
Por infelicidade
do destino, nosso primeiro amor foi desflorescendo e virando para o avesso,
enquanto novas conquistas se iam diversificando, pluralizando e multiplicando!
Assim, amadurecidos,
nos afastamos com os corações despedaçados, os olhos tristes e os nervos dilatados,
tendo que renunciar nossas ideias idiotas, nossas imagens absurdas, nossas
frases costumeiras, nossas algazarras astuciosas e nossas delícias!
Quanto a mim, fui namoradora por
algum tempo, mas nada se comparado à durabilidade, nostalgia e intensidade do
nosso primeiro momento! Muitas vezes, experimentei emoções fortes e
passageiras, e me apaixonei de imediato; outras vezes, iludi-me com falsos
amores, levando em conta que meu primeiro amado também viera se apaixonar muitas
vezes!
Naquele tempo,
experimentávamos coisas tão novas, devida jovialidade estar em alta e em fase
de desenvolvimento! Ser jovem era estar penalizado com incessantes ilusões, e
com as sutilezas e sandices de amar e sermos amados!
Assim, deixamos
de ser as primícias e os exclusivos, para vim fazer parte de um grupo de
captores em busca de novas paixões, novas sensações e novos amores! Não vou
dizer que não sofremos, porque, realmente sofremos muito; tão quanto sozinhos
como calados!
Pelas veredas da
vida fomos descobrindo novos caminhos e nos fortalecendo, aventurando-nos em
horizontes diferentes, em descobertas novas e em novos sonhos, tendo que anular
nossas conversas, esquecer nossos momentos ardentes e desaparecermos! Assim,
vertemos nossos amores adolescentes, de primeiros a últimos, tornando-os
desbotados, ignorados e desconhecidos!
Todavia, como a
vida nos prega sempre uma peça, aconteceu que, numa certa claridade do dia,
numa ocasião súbita e despropositada de horas, finalmente nos reencontramos!
Fora tudo tão lindo, que pensei que estivesse realmente voltando para o nosso
tempo adolescente!
Não era certo
vir pensar desse jeito! Afinal, as coisas agora eram diferentes e difíceis de
serem entendidas, devidos intervalos que havíamos dado um pro outro! Sabíamos
que o que pensávamos, almejávamos e sentíamos naquele momento, nada mais eram
do que enganos de sentidos, de ideias e de pensamentos, ao descobrirmos que
havíamos, de fato, nos perdido um do outro!
Infelizmente
éramos como dois estranhos, com modos, linguagens e aspectos de estrangeiros!
Estávamos tão diferentes, menos jovens e mais amadurecidos! Eu, já senhora,
mantinha meus cabelos longos, trajava um vestido rosa transparente e mascarava
o rosto com cosméticos rejuvenescedores!
Já ele, um senhor
grisalho, bonito e de falhos de barba, permanecia com seus cabelos sem um
cumprimento preciso, vestia uma camisa azul escura com gola cosida sob o listel
e apresentava dobras sobre o viés dos olhos claros!
Vendo-nos frente
a frente, sabíamos que o tempo não poderia ser mais revigorado! Havíamos
construído histórias desiguais e desconhecidas, sendo tudo apagado e
distribuído em partes separadas! Nem um e nem outro poderiam voltar para o
tempo e para o que havia se deteriorado, tendo que deixar sob o imaginário as
pegadas, os vestígios e as eternas lembranças!
Assim, cada qual
se voltou para seu respectivo canto: eu, para o meu mundo reflexivo, e ele,
para o seu mundo em preto e branco! Certamente não esqueceremos um do outro,
dos nossos encontros malucos, dos nossos amores escondidos e dos nossos sonhos
ocultos!
Sabemos que não
podemos falsear o passado, e que o nosso primeiro amor jamais prevalecerá no
esquecimento, porque tudo que passamos nos serão indestrutíveis e difíceis de
apagar!
Só posso afirmar
que, o amor, aquele nosso primeiro amor tão ardente, tão irresponsável, tão
inocente, tão gostoso e tão apaixonante, nunca perderá sua validade, legitimidade,
qualidade e espontaneidade!
Declaro que, a
quem me refiro com fervor, haverá de perceber a sua importância nessas
entrelinhas! Assim, também, que esses clamores verbais possam servir de alarmante
a todos os amores que se encontram aprisionados, ocultos e encarcerados em
tocas!
Revelo isto, não
somente para mim como locutora, mas, também, para vocês como ouvintes! O que
escrevo, escrevo de alma pura, aliviada, limpa e lavada, no intuito de saldar a
minha vaidade, excentricidade, ansiedade e fantasia! Falo em função de um todo,
de um coletivo, que seja em número superior a de apenas um casal!
Posso concluir
que a nossa descrição de vida ficará para sempre assinalada e bordada nas
entrelinhas de nossas inesquecíveis e reais histórias! Não se esqueçam de que o
nosso primeiro amor é para ser guardado, moldado e defendido em nossos
corações!
Pior seria se
fôssemos os únicos protagonistas desses romances memoráveis, ardentes e cheios
de aventuras perigosas! Aliás, não somos somente “eu e ele” nessa dramaturgia
perigosa, mas, tão somente, um numerário absurdo de “eles e elas!”.
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